ANVISA aprova tirzepatida para o tratamento da obesidade: entenda o perfil terapêutico, critérios de prescrição e precauções clínicas
Médico explica sobre novo tratamento da obesidade com comorbidades
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou oficialmente o uso da tirzepatida, de nome comercial Mounjaro, para o tratamento da obesidade no Brasil. A decisão, publicada no Diário Oficial desta segunda-feira (09), amplia o uso da substância, que já era autorizada no país para tratar o diabetes tipo 2. Até então, seu uso para obesidade era feito de forma off label, ou seja, fora das indicações descritas na bula.
Com a nova regulamentação, o medicamento pode ser prescrito para adultos com índice de massa corpórea (IMC) igual ou superior a 30, ou acima de 27 no caso de pacientes com comorbidades associadas, como hipertensão, colesterol elevado ou pré-diabetes. Mounjaro a a ser mais uma ferramenta de combate à obesidade, em conjunto com mudanças no estilo de vida, como dieta equilibrada e prática regular de atividade física.
Segundo o médico nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles, a aprovação representa um avanço importante. “Trata-se de um marco no tratamento da obesidade. A tirzepatida demonstrou eficácia expressiva em estudos clínicos randomizados, evidenciando perdas de peso significativas e sustentadas. Com base nesses resultados e na solidez das evidências científicas, o fármaco a a contar com respaldo legal para sua prescrição em pacientes com obesidade e comorbidades associadas”, afirma.
A liberação foi baseada nos estudos do programa SURMOUNT, que avaliou a eficácia do Mounjaro em mais de 20 mil pacientes ao redor do mundo. Em um dos estudos (SURMOUNT-1), indivíduos que usaram o medicamento por 72 semanas perderam, em média, até 22,5% do peso corporal, número muito superior ao do grupo placebo. Outro estudo (SURMOUNT-5) comparou a tirzepatida à semaglutida, mostrando que os pacientes que usaram Mounjaro perderam cerca de 47% mais peso.
“A tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, apresenta um mecanismo de ação diferenciado ao atuar simultaneamente sobre dois receptores hormonais: GLP-1 (glucagon-like peptide-1) e GIP (glucose-dependent insulinotropic polypeptide). Essa ação dual potencializa o efeito de saciedade e promove um controle mais eficaz do apetite, elemento crucial no tratamento da obesidade. Tal característica é especialmente relevante para pacientes que enfrentam o chamado ‘efeito sanfona’, marcado por perdas e recuperações cíclicas de peso”, explica José Israel. Ele reforça, no entanto, que o medicamento não substitui hábitos saudáveis: “Embora represente uma ferramenta terapêutica potente no manejo da obesidade, a tirzepatida deve ser utilizada exclusivamente sob prescrição e acompanhamento médico. Seu uso deve estar inserido em um plano de tratamento individualizado, que contemple avaliação clínica completa, mudanças no estilo de vida e monitoramento contínuo dos parâmetros metabólicos.”
Atualmente, o Mounjaro está disponível no Brasil em doses de 2,5 mg e 5 mg, com aplicação semanal por meio de canetas autoinjetoras. “O uso indiscriminado ou sem a devida supervisão médica pode acarretar efeitos adversos importantes, como náuseas, vômitos, constipação intestinal e, embora raro, risco de pancreatite aguda. Esses eventos reforçam a necessidade de que o tratamento com tirzepatida seja conduzido por profissional médico qualificado, com acompanhamento rigoroso e individualizado”, alerta o médico. O tratamento oferece novas esperanças para pacientes que enfrentam dificuldades com o controle do peso, mas sua eficácia e segurança dependem do uso correto e do monitoramento constante.
Por Carlos Nathan Sampaio
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